Com início nesta terça-feira(14), a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea ocorre em meio a uma queda de novos doadores no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), vinculado ao Instituo Nacional do Câncer (Inca). Em 10 meses, o Rio Grande do Sul obteve 4.052 novos doadores. Mantendo esse ritmo, 2021 será o ano com o menor índice de adesão na série histórica, que contabiliza os dados desde 2014. No ano passado, o número de gaúchos que entraram no sistema nacional já havia caído pela metade em relação a 2019: de 14.829 para 7.124.
A queda é notada também em esfera nacional. No país, foram 144.290 novos doadores até outubro. Ano passado inteiro os dados indicavam 229.072, enquanto em 2019 foram 291.361 registros.
Conforme o médico Marcelo Capra, chefe do Serviço de Hematologia e Oncologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, assim como nos demais transplantes, o processo foi diretamente afetado pela pandemia da covid-19, agravando dois problemas já notados anteriormente.
— Durante a pandemia os transplantes de medula não pararam, mas sofreram limitações, principalmente durante os momentos mais críticos. O número de leitos que já é baixo foi ainda menor, pois as atenções estavam voltadas para o combate à doença. Além disso, fica claro que o número de doadores diminuiu nesse período— relata.
A medula óssea é encontrada no interior dos ossos e possui células-tronco capazes de produzir componentes sanguíneos, como os leucócitos e os glóbulos vermelhos e brancos. Os beneficiados pela doação são pacientes de alguma doença que afeta a capacidade de produção desses componentes sanguíneos, como a leucemia, por exemplo.
Atualmente, o Brasil possui mais de 5,5 milhões de doadores, sendo 364 mil no Rio Grande do Sul. Já o número de pacientes a espera de transplante é de aproximadamente 22 mil, sendo 1.399 no Estado. O número muito superior de doadores, no entanto, não é indício de regularidade nos atendimentos. Capra explica que, embora seja possível buscar doadores em vida (ao contrário de outros órgãos), a chance de obter compatibilidade é uma para cada 100 mil pessoas.
—É como se a composição genética dos glóbulos brancos do sistema imunológico fosse um código de barras. Cada pessoa possui um sistema único. Por isso, achar um doador que tenha células que se adaptem ao organismo do receptor é muito difícil, e daí vem a necessidade de se obter um número cada vez maior de voluntários— explica Capra.
A edição desse ano da Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea tem como objetivo estimular mais pessoas a se cadastrarem na rede de doadores.
A campanha ocorre desde 2009, após a vigência da Lei Pietro, que exige a promoção de políticas públicas que incentivem a importância da doação. A lei leva como nome o filho do ex-deputado federal gaúcho Beto Albuquerque, vítima de leucemia mieloide aos 20 aos. O pai, que é autor do projeto, realiza desde então eventos para promover a doação. Neste ano, uma palestra na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul(OAB-RS) deu início a campanha.
— Nosso objetivo é sempre esclarecer para as pessoas o quão simples e importante é o processo de doação. Muita gente confunde medula óssea com medula espinhal. Mas não há nenhuma relação com a nossa coluna— afirma o político.
Até o dia 21, diversos eventos, presenciais e virtuais, irão incentivar o cadastramento de potenciais doadores, com o apoio do Hemocentro Estadual do Rio Grande do Sul.
Restrições na idade dos doadores
Desde julho deste ano, pessoas acima de 35 anos não podem mais doar medula óssea no Brasil, anteriormente, a idade limite era de 55 anos. A medida entrou em vigor após portaria do Ministério da Saúde. Na época, a pasta argumentou que se trata de uma tendência internacional baseada em estudos recentes que apontam para uma maior segurança no transplante quando o doador é mais jovem. A doação não é permitida para menores de 18 anos.
Pessoas de 36 anos a 59 anos que já estavam cadastradas ainda podem doar. Mas o público dessa faixa etária que pretende aderir ao sistema de doações está impedido de fazer o cadastro.
Para Beto Albuquerque essa medida também ajudou a diminuir o número de novos cadastrados. Para ele, a medida foi colocada em prática sem discussão e tirou a oportunidade de diversas pessoas integrarem a campanha.
Fonte: GZH/ Foto: Porthus Junior / Agencia RBS
— Na palestra que fizemos tinham diversas pessoas com cerca de 40 anos que quiseram se cadastrar, mas não foi possível devido à portaria— relata.
Como Doar
Para se tornar um doador é necessário ir até ao Hemocentro da sua região. No caso de Porto Alegre também é possível buscar atendimento no Hospital de Clínicas. Para fazer o cadastro é necessário realizar a coleta de sangue, cujos resultados são armazenados em um banco de dados. Ao ser encontrado um paciente compatível, a pessoas é chamada para realizar o procedimento. A coleta da medula óssea pode ser realizada por meio da veia de um dos braços, em um processo similar a hemodiálise. Em alguns casos, é necessário realizar cirurgia, com a retirada do líquido do osso do quadril. O processo dura cerca de 90 minutos e requer internação de 24 horas.